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Encontro no Guarujá revela a espiritualidade e a urgência do cuidado com migrantes

  • Foto do escritor: Pastoral da Mobilidade Humana
    Pastoral da Mobilidade Humana
  • 22 de jul.
  • 3 min de leitura

Reunião promovida pela Pastoral da Mobilidade Humana retrata um gesto concreto de escuta, fé e dignidade, em um tempo em que migrar ainda é sinônimo de invisibilidade e resistência


Na última terça-feira, 8 de julho, a casa de Shake, senegalês que recebe outros imigrantes que habitam o Guarujá (SP), tornou-se palco de um encontro silenciosamente transformador. Promovida pela Pastoral da Mobilidade Humana, a reunião entre migrantes senegaleses e voluntários não se restringiu à entrega de cestas básicas — foi, antes, um espaço de acolhimento, escuta e construção de pertencimento para quem recomeça a vida longe de casa.


O encontro, que durou pouco mais de uma hora, revelou a importância de iniciativas comunitárias que vão além da assistência material e se debruçam sobre as reais necessidades dos migrantes: apoio, orientação, afeto, linguagem e convivência.


Papa, líder da comunidade senegalesa da região, expressou em palavras simples a dimensão simbólica da ação:


“Estamos orgulhosos de receber vocês. Essa colaboração com a Pastoral nos deu melhores condições de vida aqui. Hoje temos um espírito mais tranquilo para viver no Brasil”, afirmou.


Há quase dez anos no país, Papa contou que se reúne a cada quinze dias com outros senegaleses para promover a boa convivência com a comunidade local, incentivar o respeito às regras e manter laços de solidariedade entre os conterrâneos.


“Sensibilizamos os nossos a se comportarem com seriedade, respeitarem os mais velhos e as crianças. Porque somos todos pessoas. Somos todos um”, concluiu.


A Pastoral da Mobilidade Humana, responsável pela organização do encontro, é uma iniciativa ligada à Congregação dos Missionários Scalabrinianos — alusão a São João Batista Scalabrini, considerado o pai dos imigrantes. Na Baixada Santista, o grupo tem desempenhado papel fundamental na integração de migrantes e refugiados. Desde 2022, cerca de 100 pessoas já foram atendidas, com ações que vão de aulas de português a acompanhamento individual.


Entre os rostos por trás desse trabalho estão as irmãs Joyce e Juliana, voluntárias da Paróquia Nossa Senhora das Graças, no Distrito de Vicente de Carvalho. Moradoras do Guarujá, elas relatam que os desafios são muitos — especialmente quando se trata de alfabetização de adultos que, no país de origem, não frequentaram a escola. Segundo elas, embora a língua oficial do Senegal seja o francês, muitos falam apenas uolofe, dialeto local, o que torna o processo de aprendizado ainda mais complexo. As aulas de português, realizadas na paróquia, visam justamente oferecer autonomia e ampliar as possibilidades de inserção social e profissional.


Rita e Ivanete, professoras que colaboram com o ensino da língua portuguesa, ressaltam o empenho dos alunos e os obstáculos diários enfrentados:


“A maior dificuldade é a escrita. Muitos se viram bem na oralidade, mas não sabem registrar. A gente ajuda passo a passo. Eles querem aprender”, relata Rita.


Educadoras de formação, Rita e Ivanete não deixam de destacar a força do vínculo criado: “Eles usam muito o Google, tentam se comunicar de todo jeito. A língua dá liberdade: para ir ao médico, para o trabalho, para resolver a vida. É uma autonomia.”


As professoras da organização observam que a distância entre os bairros e os locais de aula também é um desafio, especialmente para quem depende de transporte. Pensando nisso, os voluntários planejam novas ações para aproximar o ensino dos pontos de convivência dos migrantes. Uma das ideias, para os próximos meses, é oferecer oficinas práticas, como cursos de manicure, visando ampliar as oportunidades de geração de renda — sobretudo entre as mulheres.


Mais do que números ou metas, o que se desenha a partir de encontros como esse é uma rede viva de cuidado. Em tempos de aumento dos fluxos migratórios, marcados por crises políticas, desigualdades e ausência de políticas públicas estruturadas, projetos como o da Pastoral mostram que acolher é, antes de tudo, reconhecer o outro como alguém com nome, história e direito de pertencer.


Ali, entre uma frase em francês, um diálogo em uolofe e um português marcado pelo esforço e pela esperança, o que se viu foi a construção de algo essencial e raro: a convivência. E é dessa convivência que nascem os verdadeiros laços sociais — aqueles que não se rompem mesmo quando a fronteira é o próprio idioma.


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